Capítulo 38 de Gêneses
Judá (louvor) era o quarto filho de Jacó através de Lia. Foi Judá que convenceu seus irmãos a venderem José como escravo, para não serem culpados de sua morte (capítulo 37:26,27). Ele se tornou poderoso entre seus irmãos (1 Crônicas 5:2). Logo depois da venda de José aos ismaelitas, Judá (tendo cerca de 25 anos) saiu da casa paterna e foi residir em Adulam, uma das cidades reais dos cananeus, no vale de Elá (onde séculos mais tarde Davi derrotou o gigante Golias).
Ali hospedou-se na casa de um adulamita, chamado Hira, e ficou conhecendo a filha de um cananeu chamado Sua (Riqueza), com quem ele logo se casou e teve dela três filhos: Er, Onã (Forte) e Selá (Petição). Quando este nasceu, ela estava na cidade de Quezibe (Enganosa).
Seguindo os costumes da época, Judá escolheu a esposa do seu primogênito, uma mulher chamada Tamar (Palmeira). Er era provavelmente muito jovem, pois toda a história narrada neste capítulo ocorreu dentro de pouco mais de vinte anos. Tudo indica que Judá estava ansioso para ter logo uma grande descendência, o que seria motivo de honra para si.
O resto da história, neste capítulo, gira em torno do direito à sucessão.
Er, porém, morreu logo depois: o SENHOR o fez morrer, porque era perverso perante Ele.
Naquele tempo prevalecia um costume, segundo o qual o irmão de um homem que morresse sem deixar filhos deveria se casar com a viuva, a fim de gerar um filho que seria o herdeiro de seu finado irmão. Este costume foi incorporado à lei de Moisés (Deuteronômio 25:5-10), ficando conhecido como a lei do levirato.
Judá então disse ao seu segundo filho Onã que se casasse com Tamar para suscitar descendência ao falecido Er.
Sendo o segundo filho, na morte do primeiro e não deixando ele descendência, Onã passaria a ser herdeiro do pai. Logo se compreende a razão por que ele não queria gerar um filho de Tamar para seu irmão, que seria herdeiro em lugar dele próprio. Ele obedeceu seu pai até o ponto de se casar com ela, mas evitou ter filhos usando de um método primitivo de controle de natalidade.
Por causa disto, as promessas de Deus a Abraão e seus filhos estavam impedidas de continuar através da descendência de Judá. Isto era mau perante o SENHOR, consequentemente fez Onã também morrer.
Judá ficou com um só filho, ainda muito novo. Temendo que ele fosse morto, como seus irmãos, pediu que Tamar voltasse à casa de seus pais e mantivesse seu estado de viuvez, até que Selá viesse a ser homem.
Algum tempo depois morreu a mulher de Judá. Tamar continuava à espera do casamento com Selá, que já se tornara adulto, mas parecia que Judá havia se esquecido dela. Mais que tudo, ela queria um filho que fosse herdeiro de Judá. Surgiu-lhe então a idéia de ter um filho diretamente dele, sem esperar mais por Selá.
Ela trocou suas vestes de viuvez por um véu, disfarçou-se como se fosse uma mulher consagrada à prostituição no culto abominável de Astarte, deusa cananéia, e se assentou no caminho que, sabia, Judá estava por passar.
Como ela havia calculado, Judá a cobiçou, propôs e ofereceu um cabrito em troca pelos seus serviços. Ela exigiu o penhor do selo, cordão e cajado dele até que ele pudesse entregar o cabrito. Completado o negócio, ela não esperou pelo cabrito mas voltou para casa e trocou de roupa outra vez. Judá mandou seu amigo com o cabrito, para reaver o penhor da mulher, mas ela não estava mais lá.
Ela concebeu nessa ocasião, conforme seu desejo. Três meses depois, a notícia foi dada a Judá que ela estava grávida - logo tinha adulterado. Imediatamente ele ordenou que ela fosse tirada e queimada.
Naquele tempo a função considerada mais importante da mulher era produzir filhos que perpetuassem a linhagem de seu marido. Para ter certeza absoluta que os filhos pertenciam ao marido, a noiva precisava ser virgem e a esposa ser fiel a ele. A esposa que adulterasse podia ser executada a mando do marido.
Já as prostitutas não pertenciam a famílias: ou eram prostitutas cultuais, sustentadas por ofertas, ou prostitutas comuns, sustentadas por seus clientes. Seus filhos não eram herdeiros de qualquer família, e os homens que as alugavam não ofendiam a linhagem de ninguém.
Judá não via qualquer mal em alugar os serviços de uma prostituta, mas estava disposto a executar Tamar porque, se ela estava engravidada devido a prostituição, sua criança não podia ter herança na família. A questão da moralidade sexual não o influía: sua preocupação era pureza de linhagem. Notamos o baixo nível moral deste homem, que contrasta fortemente com a pureza moral do seu irmão José, como veremos no próximo capítulo.
Tamar havia agido com prudência ao tomar como penhor objetos muito pessoais de Judá: o selo, por exemplo, era uma forma de identificação usada para autenticar documentos legais; geralmente consistia em um desenho especial gravado em pedra, montado num anel ou colar, usado sempre pelo seu dono. Quando ele a condenou à morte por suposta prostituição, ela conseguiu provar sem qualquer dúvida que os objetos eram dele, fazendo-o admitir o seu encontro.
Ele imediatamente reconheceu ser o pai da criança resultante, e que ela era mais justa do que ele: foi Tamar, e não Judá, que havia tomado providências para lhe dar um herdeiro legítimo. Com a sua artimanha, ela agiu mais no espírito da lei do que ele, que não lhe dera seu terceiro filho Selá para casar-se com ela.
Na hora do parto, descobriram que iam nascer gêmeos. A parteira atou um fio encarnado na primeira mão que apareceu, mas ela foi recolhida, e o gêmeo a quem a mão pertencia nasceu em segundo lugar. 0 primeiro a nascer recebeu o nome de Perez (brecha, rompimento), e o segundo Zerá (nascer do sol).
Os dois são mencionados na genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:3), sendo Ele descendente de Perez. Desta forma os filhos da filha de Sua foram eliminados da linhagem do Senhor Jesus.
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